2013| Fabricante de plantas
"JOSÉ AUGUSTO MARTINS // SÓCIO-GERENTE DA RAIZ DA TERRA - Como um rapaz de Vila Praia de Âncora se tornou líder ibérico, produzindo 3 milhões de plantas/ano, 80% para a exportação
O povo diz que às vezes há males que vêm por bem e tem razão, como se vê no caso do Zé Augusto. Não tivesse sido ele um bocado baldas, durante o Secundário, feito na Ancorensis, e conseguiria a média para entrar em Medicina Veterinária - e ter-se-ia muito provavelmente perdido o empreendedor distinguido com o prémio Jovem Agricultor pelo Continente e o "Jornal de Negócios".
Zé Augusto, 40 anos, nasceu em Riba d' Âncora, Caminha, fruto de um matrimónio entre os setores primário (a mãe era de uma família de agricultores de Vile) e terciário - o pai, comerciante, era o dono da Loja do Gaspar, que já vinha do tempo do seu bisavô, uma daquelas mercearias do campo em que se vende de tudo.
Um documentário televisivo da National Geographic sobre a vida e trabalho dos veterinários impressionou-o ao ponto de sonhar ser médico da bicharada, enquanto fazia a meia dúzia de quilómetros (três à ida e outros tantos à volta) que fazia em cima da bicicleta entre sua casa e a escola, em Vila Praia de Âncora.
Uma média curta de mais obrigou-o a acionar o plano B. Inscreveu-se em Engenharia Florestal, na UTAD, e aos 18 anos lá foi ele para Vila Real, feliz como todos os adolescentes quando pela primeira vez saem de casa dos pais - à qual só retornava uma vez por mês porque ao tempo a viagem de camioneta demorava uma tarde inteira e se fosse de comboio ainda era pior porque lhe levava quase todo o dia.
Gostou do curso, durante o qual foi um aluno razoável (evitando assim o castigo ameaçador de passar as férias aos balcão da Loja do Gaspar) e no final, em 1995, arranjou logo um estágio remunerado no Parque Natural da Serra da Estrela.
Após oito meses em Manteigas, voltou ao Alto Minho, onde se demorou uns três anos como técnico da Associação Florestal do Lima, até que nas vésperas da mudança do milénio começou a magicar negócios a partir da terra com o primo Luís e o amigo João.
A SRL, que produz flores cortadas, foi o primeiro fruto desta desinquietação. A seguir vieram a Quebrarco, que fornece carvão vegetal, e a Raiz da Terra, a fábrica de plantas que Zé Augusto dirige a partir de Vile, a terra natal do lado materno da sua família.
Os primeiros três anos foram difíceis, sempre a perder dinheiro. "Não éramos eficientes. O saber não existia. Uma pessoa sai do curso com uma ideia do assunto mas não sabe nada" conta Zé Augusto.
Agora que o saber já existe, e após um investimento de um milhão de euros em equipamento do mais moderno que há, a Raiz da Terra emprega 22 pessoas a tempo inteiro, e nos seus dez hectares de terra (dos quais 2,5ha são de estufas) produz todos os anos três milhões de plantas, que vende essencialmente a viveiros e lhe asseguram um volume de negócios de 800 mil euros/ano.
Não satisfeito com a liderança ibérica do setor, conseguida a custa de muito saber e eficiência, Zé Augusto prepara-se para fazer surf em cima das tendências bio e eco do consumidor urbano, lançando uma Plant Collection, constituída por pequenos vãos de plantas aromáticas e frutos vermelhos, para serem vendidos nas grandes superfícies.
A sorte que ele teve em não conseguir ser veterinário..."
"Jornal de Notícias", março 2013